O vírus zika foi isolado em macacos Rhesus sentinelas a
partir de Aedes africanus capturados na
floresta Zika, próxima a Entebe, Uganda, em 1947. Esses animais apresentaram alguma febre e o vírus foi isolado no sengue deles. Isso mostrou que os mosquitos Aedes africanus da região estavam
atuando como vetores deste vírus. Uma segunda amostra foi obtida a partir de macerado
desses mosquitos capturados na área. Este mosquito é também o transmissor da
febre amarela na região, e a ampla disseminação do vírus zika nesse vetor fez
os pesquisadores supor que este vírus também circulava em humanos, mas eles não
estudaram este aspecto epidemiológico.
Em 1952 foram publicados os estudos virológicos com este
agente (Dick, 1952), e um desses trabalhos é o que mais nos interessa
aqui. O vírus produziu infecção experimental em camundongos e macacos, e os
resultados desses experimentos são agora muito importantes para nós, dada a
suspeita entre vírus zica, microcefalia gestacional em gravidas infectadas, e
alterações nervosas eventuais em pacientes como lesões oculares e síndrome de
Guillain-Barré. Em relação à associação entre zika e microcefalia, não será difícil
ensaiar infecções em fêmeas grávidas desses animais, sendo isto um passo importante
na investigação.
Após varias passagens o vírus causava paralisias e
encefalites em camundongos recém nascidos matando todos eles após inoculação
por via intracerebral e intraperitonial (em animais com mais de duas semanas). Todos os animais morreram da infecção. Em todos os casos
o vírus mostrou neurotropismo evidente: ele não infectada as vísceras (rins, pulmões,
fígado, baço), somente no cérebro ele crescia em grande quantidade. Não houve viremia, exceto no dia da inoculação.
Em macacos, as infecções produzidas por inoculação subcutânea eram
inaparentes, e naqueles inoculados por via intracerebral somente poucos
exibiram febre de baixa intensidade entre o 1º e 4º dias. Em todos eles havia
viremia na primeira semana após a inoculação e elevação de anticorpos
neutralizantes após duas semanas. Em todos detectou-se anticorpos neutralizantes
após duas semanas. A infecção inaparente em macacos resus, macacos
de Sabá e macacos cinzentos sugere que este vírus é naturalmente patogênico para
esses primatas.
Em camundongos, onde a infecção era confinada apenas ao
sistema nervoso, a histopatologia mostrou diferentes graus de infiltração e
degeneração amplas já a partir do primeiro dia de inoculação, mostrando um vírus de crescimento rápido. Semelhante achado também foi encontrado na medula espinhal
(isto talvez lance uma suspeita no caso da síndrome de Guillain-Barré observada
em humanos atualmente). Corpúsculos de inclusões Cowdry do tipo A (corpúsculos eosinofílicos
intranucleares) foram observados nas células em áreas extensamente degeneradas
do cérebro.
Esses fatos lançam uma suspeita fundamentada de ser o vírus
zika um vírus neurotrópico. Ele pode ser, de fato, uma provável causa de
microcefalia e síndrome de Guillain-Barré.
Referência:
Dick GWA. Zika virus. (II) Pathogenicity and properties, Trans.
R. Soc. Med Hyg. 1952; 46: 521-34
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