segunda-feira, 8 de março de 2010

Dinâmica Evolucionária dos Vírus. I – Redefinindo a Natureza Viva: O Paradigma Genômico

(se utilizar partes do texto, cite a fonte: Portela Câmara, F. Dinâmica Evolucionária dos Vírus. I – Redefinindo a Natureza Viva: O Paradigma Genômico, in www.popdinâmica.blogspot.com)

Discutir se um vírus é vivo ou não é uma questão recursiva que não leva a conclusão alguma. É certo que células se reproduzem e são autônomas na obtenção de sua energia e biossíntese; os vírus não seguem este padrão, mas parasitam células e utilizam a energia e o equipamento de biossíntese desta.
O parasitismo é uma forma de vida em que um ser depende do outro para realizar seu ciclo vital. A biologia parasitária é um fenômeno central em biologia e evolução. A palavra “parasita” designa qualquer forma de vida que se completa ao interagir outra, de onde obtém recursos para sobrevivência. Todo ser vivo depende indiretamente do outro, e a grande maioria depende diretamente do outro. Os vírus não constituem uma exceção, e mostram que esta inter-relação desce ao nível molecular e é o ponto de partida para a evolução.
O desenvolvimento da Genética e da Biologia Molecular deixaram claro e evidente que a unidade de evolução é o gene ou um grupo de genes atuando sinergicamente para que uma função ou comportamento se atualize. Em dinâmica evolucionária, chamamos genericamente replicador a esta unidade de evolução. A evolução de grupo não é mais aceita. Darwin aceitava esta hipótese porque em seu tempo a genética ainda não tinha sido descoberta, e mais recentemente a teoria de Vero Wynne-Edwards da seleção de grupo não resistiu às evidências e críticas. A crítica de George Williams à hipótese de Wynne-Edwards, por exemplo, foi tão influente entre os evolucionistas que acabou por provocar uma explosão na literatura, da qual as obra de Richard Dawkins (O Gene Egoísta) talvez seja a mais conhecida, bem como as de W. D. Hamilton, R. Trivers, G. C. Wiliams, J. Maynard Smith, K. Sigmund, e outros, sem esquecer um pioneiro, R. A Fisher.
As células e organismos não são santuários genéticos onde os genes estão isolados e imunes ao meio ambiente. Na biosfera circulam numerosas formas de replicadores que invadem transitoriamente células ou nelas se estabelecem, ora silenciosamente, ora ativamente. É neste sentido que a biologia moderna encara a vida, uma teia de fluxos gênicos conectando as mais diversas formas de organização biológica, das mais elementares às mais complexas. Há uma teia dinâmica de genomas, do primitivo ao complexo, que se comunicam, interagem e evoluem. A biologia moderna “vê” a biosfera como genomas em evolução cooperando um com os outros, e a preservação deste hipergenoma é hoje uma questão não apenas biológica como vital para a existência futura do planeta em que vivemos.
O que a biologia clássica chama vírus são genomas autônomos que transitam entre células e ai se reproduzem e co-evoluem. Estes genomas são como módulos que transferem informação genética introduzindo variedade gênica e podem se fixar possibilitando evolução por saltos. Isto é metaforicamente repetido pela terapia genética, que utilizando vírus como vetores de genes, reproduz no laboratório o que a natureza tem feito desde que a primeira protocélula emergiu no oceano primitivo.
Sendo replicadores, a manifestação primária dos genomas virais é a sua reprodução, força cega da natureza que garante a preservação de genes e sua evolução. Isto é percebido como infecção viral e epidemias, ocultando a notável competição evolutiva entre genes por toda biosfera.

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