É hoje aceito que a Peste Negra se originou na Ásia Central e
chegou aos portos europeus em 1347 através da Rota da Seda. Isto marcou o início
da Segunda Pandemia de peste da História, que durou até o final do século XVIII
na Europa. Durante muito tempo pensou-se que a Yersinia pestis foi introduzida na Europa naquele ano e a partir
daí persistiu em focos autônomos neste continente. Em meu livro “O Enigma da
Peste Negra” mostro que não deve ter sido assim, e defendo que a peste foi
introduzida em diversas ocasiões a partir do seu foco asiático permanente. Ela se
mantinha na Europa por algum tempo até esgotar as populações de ratos suscetíveis
e então desaparecia, ou seja, os focos europeus eram transitórios, formados
pelo rato preto (Rattus rattus) que é
um hospedeiro suscetível amplificador da peste. Agora, Schmid et al. (2015) com
base em estudos dendrológicos apresentaram evidências convincentes que as epidemias europeias
foram, de fato, impulsionadas por eventos climáticos na Ásia Central. Eles estudaram
as flutuações climáticas que ocorreram antes das epidemias regionais,
analisando dados de 7.711 focos, e 15 registros climáticos em anéis de árvores da
Europa e da Ásia, cuja espessura dos anéis anuais reflete as condições do
crescimento da vegetação frente a variações climáticas. (Incluí essa referência
na próxima edição do meu livro.)
Ficou claro que o ciclo epidêmico da pandemia estava
sincronizado com as variações climáticas na Ásia, conforme os achados em anéis
de árvores de zimbro em Karakorum, região montanhosa no norte do Paquistão. No
Cazaquistão, p. ex., primaveras quentes e verões com mais chuvas levam a um aumento
na densidade de grandes gerbilos (Rhombomys
opimus) e suas pulgas, aumentando a prevalência de peste. Nas quedas
bruscas de temperatura essas populações colapsam, e as pulgas passam a procurar
hospedeiros alternativos, como seres humanos (e talvez camelos, muito usados na
região). Na cordilheira de Karakorum, os reservatórios de roedores dominantes de
peste são os esquilos de cauda longa (Spermophilus
ondula) e as marmotas Altai (Marmota
baibacina). Os autores encontraram que um aumento de 1 grau Celsius duplica
a prevalência [de peste] em roedores selvagens na Ásia Central (Schmid et al.,
2015).
Esses eventos climáticos na Ásia Central (e não na Europa) precederam
a introdução da peste na Europa por 15 anos, cuja propagação para fora da Ásia se
deu em várias ondas a partir dos focos mencionados, pela via do comércio
marítimo. Os autores descobriram 61 potenciais introduções marítimas em 17
portos comerciais ao longo das costas do Mediterrâneo e do Mar Negro, e
identificaram 16 ocasiões entre 1346 e 1837 de novas epidemias de peste. Esses
intervalos de tempo são muito dilatados para se considerar que os ratos que viviam
na Europa eram, de fato, reservatórios de peste: A Y. pestis foi continuamente reimportada, e os ratos pretos apenas ajudaram
a manter as epidemias nos navios e nos portos.
Para explicar o atraso de 15 anos para a chegada da peste na
Europa, a equipe propõe a seguintes hipótese: As pulgas levaram um a dois anos
em busca de novos hospedeiros após as populações de gerbilos colapsarem, em
seguida, o patógeno atravessou 4.000 quilômetros para o oeste em 10 a 12 anos,
e finalmente menos de três anos para invadir o continente europeu.